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"Não há nada que não se consiga com força de vontade, com bondade e,sobretudo, com amor". M. Cicero

18 abril, 2012

Reconversão Profissional ou Novas Oportunidades??

Há quem tenha nascido já a saber o que queria ser quando fosse grande. Bombeiros, bailarinas, médicos, cientistas, jogadores da bola, jornalistas e já agora poderiamos acrescentar para as novas gerações, actores, modelos e reality showmen/women.

Há quem nunca tenha pensado muito seriamente no assunto e por exclusão de áreas impraticáveis e preferências académicas (quem tem problemas com os números como eu sabe do que estou a falar) tenha acabado a exercer uma profissão que nunca tinha contemplado até se ter tornado no protagonista da mesma.

Lembro-me que de pequena queria ser cabeleireira, advogada, professora de ginástica, tradutora e possivelmente mais alguma profissão glamourosa que me estou a esquecer de mencionar. Depois houve um dia que fiz uns psicotécnicos de orientação profissional - com um resultado espantoso- mas que decidi seguir sem saber muito bem por quê. E foi já na faculdade, no 1º ano de política social que percebi que nunca, jamais, never iria conseguir trabalhar na área. Posso não saber exactamente o que quero, mas nunca tive problemas em perceber o que não encaixa comigo. Tinha portanto um problema. Tinha que mudar de curso e a questão que se colocava, dado o fracasso estrepitoso da minha suposta vocação, era saber para quê, para onde?

Depois de muitas dúvidas e hesitações a escolha recaiu na antropologia. Essa coisa que ninguém parecia/parece saber muito bem para que servia. Gostava das matérias, parecia suficientemente abrangente para poder trabalhar em diferentes ámbitos e, uma vez mais, sem pensar muito bem no assunto, teve inicio um percurso de muito estudo, de muito esforço, supostamente recompensado com um bom trabalho, com os accomplishments correspondentes de publicações, conferências, bolsas, e um peso, um peso brutal que tornava impossível desfrutar fosse do que fosse. Tive uma companhia durante essa outra vida muito importante e especial, com a qual trabalhei como se não houvesse amanhã, com quem partilhei o lado professional e o pessoal durante anos, com quem ri muito e chorei ainda mais. Se não fosse por ela, pela E.,  também não seria quem sou. Ajudou-me tantas e tantas vezes, e por isso vou estar para sempre agradecida. Foi uma das primeiras pessoas que percebeu que deixar a vida académica não ia ser nenhum drama, pelo contário. Seria uma espécie de liberação.

Mas como o "programa mental" que construimos com base em ideializações nossas e projecções dos outros é mesmo muito forte e dominante, tentei reproduzir o modelo deste lado da fronteira. Correu bem, fiz amigos. Conheci pessoas interessantes. Boas pessoas. Mas o peso regressou. A falta de ar. A angústia de pensar "se me preparei para isto toda a vida, porque raios não estou contente?" ou "Como é que é possível que quando penso em deixar a universidade sinto um enorme alivio?" A resposta agora parece-me óbvia: não era o meu sitio, o meu caminho. Já percebi e aceitei.

A carreira docente tem que ser uma carreira vocacional, não se pode estar por estar. Porque fica bem no curriculum ou nos cartões de visita. Continuo a admirar todos (ok, quase todos) os colegas com quem me cruzei mas, defintivamente, não estava no meu meio.

Se bem que à minha volta há quem não perceba e insista em perguntar como é possível deixar passar essa oportunidade, como é possível deixar para trás o trabalho de anos e anos, como é possível viver com o consequente desprestigio profissional, social. Lamento, mas as minhas necessidades pessoais não passam por ver a lista de entradas que aparecem com o meu nome no google. Depois de tanta teoria e tanto estudo sabe bem descer à realidade das actividades quotidianas, das profissões que se traduzem em resultados mais ou menos imediatos, em que se observa de perto a utilidade do que se faz.

E como tudo acontece por uma razão, a reconversão profissional tem vindo a processar-se ao longo desta minha nova vida, com a ajuda e o apoio do meu mais-que-tudo que agora é também o meu chefe. O admirável mundo novo dos cartórios, das escrituras, dos impostos é um mundo de todas as cores. Se há dias em que parece que vou estoirar de tanta informação, em que me apetece matar porque me engano, há outros em que tudo vale a pena, com o obrigado sentido de um cliente, com a certeza de ter trabalhado bem, com a inédita e plácida sensação de "é sexta-feira, posso apagar o computador, fechar a secretária só voltar a pensar em trabalho na segunda".

Foi uma escolha do coração ter trocado Lisboa por um qualquer sitio em Espanha com o meu amor (para quem não sabes somos praticamente semi-nómadas ). Mas a mudança de profissão, essa foi uma escolha da razão.

Por isso quando me perguntam "não tens pena de ter deixado a universidade?" a resposta é "não". E quando dizem "então e o esforço todo que fizeste, não serve para nada?" respondo, "serve sim, serve para saber que posso fazer o que quiser, que posso agarrar todas as novas oportunidades que se colocarem, em cada momento". Niguém sabe as voltas que a vida da, mas como bem dizia Cícero "Não há nada que não se consiga com força de vontade, com bondade e, sobretudo, com amor".

E posso sempre enveredar por um caminho alternativo dada a minha experiência recente. Ora vejam lá.



M.