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"Não há nada que não se consiga com força de vontade, com bondade e,sobretudo, com amor". M. Cicero

08 julho, 2012

Toucados.

Um dos entretenimentos da tarde de ontem consistiu na observação, comparação e crítica dos toucados que as espanholas adoram em usar nos casamentos.

Estava eu sentadinha com umas amigas numa esplanada do Espolón, uma espécie de Plaza Mayor aqui de Logroño, a falar de férias, viagens e afins quando ficamos as tres estupefactas perante o desfile de vestidos de cerimónia que começou a ter lugar diante dos nossos olhos e que durou mais ou menos uma hora.

É que o Espolón é o ponto de encontro e partida em autocarro dos convidados, qual excursionistas, para algum dos muitos restaurantes e salas de festas que existem nos arredores. A cerimónia normalmente tem lugar numa das igrejas do centro histórico e depois seguem todos para a festarola. E nós ontem tínhamos um lugar privilegiado para a observação de modelitos. E, claro, havia para todos os (des)gostos:)

A questão da indumentária de cerimónia é algo que muitas mulheres espanholas levam muito, muito a sério, investindo autênticas fortunas em modelos (alguns inexplicáveis) que raramente repetem noutras ocasiões. Claro que estou a generalizar, porque a maior parte das minhas amigas recicla, recorre ao armário de outras amigas e não mata a cabeça com estes assuntos. Mas, que las hay, hay:)

Tivemos o prazer de observar de tudo. Desde vestidos compridos que brilham na escuridão e que não deviam aproximar-se de fontes de ignição, just in case; aos que competiam pelo minimalismo de tamanho (se alguém se lembra da menina grega da eurovisão deste ano, eram nessa onda), aos saltos vertiginosos que obrigam a posturas caminhantes no mínimo bizarras, e esse complemento que dá título a este post: os toucados.

Como adereço em si há alguns que são verdadeiras obras de arte, bonitos, elegantes. Outros são... Digamos, espantosos (de espanto!!). E não sei por quê, mas a mim parece-me que nem todos ficamos bem de toucado... (nunca experimentei, mas estou aberta a novas sensações, lol). Sei lá, é como os shorts, são super elegantes, ou assustadores, dependendo das pernocas que lá vão dentro.

É isto é uma opinião de uma "guiri" forma carinhosa que os espanhóis utilizam para se referir aos estrangeiros que desfilam pelo país estilo gamba (do escaldão) e que usam sandália com soquete branco. Não é o meu caso, mas sou "guiri" pelo que me estão permitidas certas combinações impossíveis para os nacionais. O casaquinho de malha sempre à mão é uma delas.

Acontece que muitas manhãs o princípe me diz, qual carneiro prestes a ser degolado "ehem, Marta, acho que esses sapatos não ficam nada bem com esse vestido...". Ao que eu respondo "achas??? Olha paciência, já os tenho postos e não me apetece calçar outros".

Quer-me parecer que algumas das senhoras com toucados também não ligaram nada aos maridos-assessores de imagem.

M.

"De Rodríguez".

Este fim de semana estive "de rodriguez". Passo a explicar esta pérola idiomática e cultural de nuestros hermanos.

A expressão "de rodríguez" aplica-se a uma realidade que começou a verificar-se nos anos 70, mais coisa menos coisa, e se refere à debandada generalizada das esposas e filhos para os pueblos - ou para as costas no caso dos mais adinheirados com segundas residências na praia - a partir de finais de junho e durante o mês de julho, até que em agosto o chefe de família tinha férias e se reunia ao resto da familia.

Para os machos latinos, apelidados genericamente "rodríguez", esta experiência tinha um sabor agridoce. Doce porque eram "livres" para fazer o que bem entendessem sem o controle social das mulheres (as suas e as dos amigos), o que invariavelmente remete para o imaginário das noitadas de copos e seduçao com os restantes "rodriguez" pelos bares das cidades (há vários filmes desta década bastante ilustrativos deste conceito). Agrio porque supostamente estamos a falar de uma geração de ineptos nas lides domésticas (outra leitura é a de que se tratava de uma sociedade bastante machista a este respeito) que esgotavam a roupa limpa, não comiam nunca em casa dado que não sabiam estrelar um ovo, e que bem lá no fundo estavam desejosos de regressar ao regime de "tudo incluido", vigente durante o resto do ano.

Os tempos mudaram mas a expressão ficou. Tanto serve para homens como mulheres que, em momentos pontuais, passam uns dias sozinhos em casa, sem a companhia dos respectivos, dias que se aproveitam para fazer o que nos da na real gana, para nao ter obrigações, uma especie de liberação da rotina.

E pronto, depois da explicação cultural, resta-me dizer que o meu príncipe foi a uma despedida de solteiro de um amigo e eu fiquei com dois dias e meio pela frente só para mim. Yeiiiiiii:)

Claro está que de tudo o que pensava fazer não fiz nem um terço (característica típica de estar "de rodríguez"). Primeiro porque tive a má sorte de acumular um entupimento que além de umas décimas de febre não me deixou respirar e descansar durante a noite. E depois porque já estou altamente espanholizada no que se refere à galderice. E o que era suposto ser uma cervejola na esplanada às 6h da tarde transformou-se numa sessão de galhofa que durou até às 11 da noite, sexta e sábado.

Ainda assim dei um saltinho às "rebajas" e comprei um vestido onda surfista da Quicksilver e um pijamita na Womens Secret. Além de ter deitado o olho a mais umas quantas coisitas, entre elas um bikini na Vanity Fair, mas que requer uma segunda opinião de alguém que não ganhe comissão com a sua venda.

E pronto, hoje o dia já vai adiantado e ainda não fiz nada de jeito. Bem, ouvi pela terceira vez o Cd que me gravou a professora de danças orientais, tomei um pequeno almoço demorado na pastelaría a que costumo ir aos domingos, li o editorial do A. Pérez-Reverte de quem sou fã por ser tão políticamente incorrecto e por partilhar grande parte das suas opinões, e agora estou aqui a escrever este post.

Se estar de rodríguez não é isso, então não sei o que será:)

De qualquer forma, quando o príncipe regressar esta noite, o dia vai ser ainda melhor.

M.