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"Não há nada que não se consiga com força de vontade, com bondade e,sobretudo, com amor". M. Cicero

22 abril, 2012

Religião Q.B.

Aproxima-se o mês de Maio que em Espanha é sinónimo de um acontecimento festivo-familiar de proporcções épicas: as primeiras comunhões. A expressão "noivas de maio" ganha aqui novos contornos, e implica algumas práticas que um bocadinho incoerentes com o estado da nação, quer a nível económico, quer a nível cultural, ideológico e religioso.

As meninas vestem-se de princesas e os meninos de marinheiros (vá se lá saber por quê?!!), têm os seus banquetes, reportagens fotográficas de interior/exterior prévias ao acontecimento que fariam corar muitas noivas. As meninas e os meninos anseiam pelos presentes que vão receber, pela roupa que vão estrear, pela festa que vão protagonizar, mas ainda estou à espera de ouvir algum comentário sobre o sentido religioso do acto em si. E assim, as familias gastam autênticas fortunas para que os seus petizes não se sintam envergonhados perante os colegas quando chega a hora de contar como tudo aconteceu.

Diz um amigo que é "culturalmente católico e dogmáticamente ateu", para explicar a razão pela qual não sendo crente, se casou pela Igreja e baptizou os filhos. Seja por convenção social, pressão familiar, ou pura superstição, raros são os casos de amigos e conhecidos que protagonizam estes ritos por uma verdadeira fé e crença religiosa.

São raros mas existem, e de ambos lados da fronteira.  E quando vejo o sacrificio e a dedicação destas pessoas penso que são realidades e conceitos opostos. Escrevo sobre pessoas que, para além das suas responsabilidades profissionais e familiares tão stressantes e exigentes como as de qualquer outra pessoa, arranjarm maneira de desempenhar um papel activo nas suas paróquias, de se reunir aos fins de semana e em períodos de férias com outros companheiros que, como eles, dedicam uma grande parte das suas vidas a servir a comunidade a que pertencem, de acordo com os princípios religiosos em que acreditam e que praticam.

Por isso quando aqueles que até ontem tinham um discurso abertamente anti-clerical, hipercrítico da Igreja católica, que se diziam ateus, de repente se casam pela igreja, baptizam os filhos e os matriculam nos sagrados corações e derivados, sinto que há qualquer coisa que me escapa. Então mas a religião não é uma questão de fé, de crença e vivência de uma série de principios e valores? Ou é um ingrediente como o sal e a pimenta que usamos q.b.? Já sei que não devemos dizer "desta água não beberei" e que todos nós temos as nossas ambivalêcias, mas há certas incoerências que são mais incoerentes que outras. Faz-me confusão, é só isso.
M.