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"Não há nada que não se consiga com força de vontade, com bondade e,sobretudo, com amor". M. Cicero

21 novembro, 2012

Quando a realidade não traduz o mundo ideal.

No meu mundo ideal pensei que ia ter uma gravidez de sonho.

Que ia poder trabalhar até ao final.
Que ia ser uma grávida cheia de estilo e glamour.
Que iamos fazer uma reportagem fotográfica familiar, dessas para mais tarde recordar.
Que ia percorrer todas as lojas de roupa, acessórios e mobiliário para preparar a chegada do petiz.
Que ia viajar até ser permitido pelas companhias de aviação.
Que ia dançar com o grupo de danças orientais para grávidas que a minha professora estreava este ano.
Que ia poder ir ao cabeleireiro e à depilação como sempre.
Ia, ia, ia...

Mas como estamos sempre a aprender que o ideal nem sempre coincide com o real...

Deixei de trabalhar em setembro, depois de uma ameaça de aborto às 18 semanas.
O conjunto que mais tenho usado alterna entre o azul e o verde das batas do hospital, combinado com o meu roupão fucsia, porque os corredores do dito são muito fresquinhos e, desde então, divido os meus dias entre o conforto do lar e a segurança do meio hospitalar. É que no último mês já lá vão três ameaças de parto prematuro.
Só tenho uma foto minha feita em casa, aos 6 meses e quase sem barriga.
As compras fazem-se online e, sobretudo, agradece-se à familia de ambos os lados da fronteira por se ter preocupado em nos enviar o "kit básico" para os primeiros tempos
Perdemos a estadia num hotel em Amsterdão, dado que a primeira hospitalização coincidiu com a viagem que tínhamos prevista (recuperámos o vôo, menos mal).
Exercício? O que é isso? Lembro-me vagamente... O único exercicio que faço é levantar-me para tomar banho. Quando posso e me deixam.
É melhor nem falar sobre o estado e o comprimento do cabelo. Descobri que posso estar 8 dias sem o lavar que não acontece nada de mal.
A depilação, enfim, faz-se o que se pode, e como sou pitosga parece-me que está perfeita!

Claro que tudo isto são parvoices comparadas com a satisfacção de estar a gerar uma vida dentro de mim e a emoção frente ao mundo desconhecido que vem por aí, com tudo o que tem de bom e de sacrificio. Uma amiga dizia ontem que apesar de todas as atribulações me invejava pela experiência que estou a viver e, de facto, não trocava este momento por nenhuma viagem, escapada, restylish e afins.

Nunca tive tanto tempo livre como agora. Leio, pinto mandalas, vejo episódio tras episódio da série Castle, falo todos os dias com as amigas via net e, semana a semana vamos avançando. Estou também numa fase muito minha, de introspecção. Não pensem que me dedico a meditar ou filosofar, nada disso, simplesmente a estar dentro do meu casulo, concentrada na minha tarefa de gestação, sem pensar em nada, na certeza de que vai correr tudo bem, mesmo que o rapaz pareça querer chegar antes de tempo. Porque a fé na vida é superior a qualquer angústia que de vez em quando aparece e nos assusta.

Conheci outras mulheres na mesma situação, com histórias muito diversas mas com muitos aspectos em comum que me ajudaram a vencer muitos medos graças à troca de experiências, receios e confissões. Devo dizer que a rede de solidariedade e apoio que se produz quando vemos que estamos todas nas mesmas circunstâncias é impressionante. Um apoio fundamental. E quando nos encontramos com as nossas batas sexys nos exames é como ir ao café com as amigas e a esperança cresce.

E não posso deixar de lado os profissionais (médicos, enfermeiras, auxiliares), que apesar da falta de materiais, da redução de salário e aumento de horas de trabalho, ajudaram bastante a relativizar os receios iniciais e a normalizar o "ir e voltar". Há mais reincidentes como eu, não julguem que tenho o exclusivo do assunto.

O mais importante é que o baby está bem e que tudo isto são só pequenos percalços que acontecem, nem mais nem menos. Que todos os problemas sejam estes.

O rapaz é só um bocadinho impaciente. Não sei a quem pode sair assim, lol.

Agora estou em casa. Espero que para uma bela temporada. E como sei que há mais meninas por aí que passaram por experiências parecidas, algumas bem mais sacrificadas que a minha, fico à espera dos vossos comentários e partilhas.

E como diz outra amiga que passou por uma gravidez complicadíssima, estamos ocupadas em trazer uma vida ao mundo, so what?

M.

PS. Se deixar de dar notícias novamente já sabem o motivo:)